11/07/2008

Quem sabe o que é ter e perder alguém? - sobre AI - Inteligência Artificial (2001)

No seu primeiro grande sucesso a estourar nas rádios, Carmem Miranda cantava assim: “Taí / Eu fiz tudo pra você gostar de mim / Ó, meu bem, não faz assim comigo não / Você tem, você tem, você tem que me dar seu coração (...)”. Dorival Caymmi, mais tarde, compunha algo como “Ó insensato coração / Por que me fizeste sofrer? / Por que de amor para entender / É preciso amar? / Por quê?(...)”. Alguém aí sabe controlar os próprios sentimentos?


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Mesmo que soe meio besta lembrar isso: filmes são filmes, pessoas são pessoas – e não é regra constante que os primeiros estejam carnalmente ligados aos outros. Aos seres humanos, assim como aos demais seres vivos, a passagem de tempo tende a transformar, amadurecer – para melhor ou para pior segundo o critério de cada um. Podemos julgar um filme, talvez. Podemos julgar uma pessoa? Se um filme passa por transformações ao longo de sua duração, é preciso notar que, sendo imensamente mais curto que a vida de uma pessoa, pode ter suas idéias resumidas e julgadas de forma menos superficial e também menos imprópria.

Devemos queimar AI? Devemos queimar Steven Spielberg, como já se disse sobre Sade? Uma resposta positiva a uma das questões me parece não implicar obrigatoriamente em resposta igual para a outra, como notei no parágrafo acima. Muita gente detesta AI, muita gente detesta só o final do filme, muita gente detesta só a parte do Spielberg, muita gente detesta, enfim, Steven Spielberg – assim como não falta quem seja fã e não se sinta bem em pôr em questão este afeto. Podemos analisar e julgar o filme – mais do que isso, é realmente necessário analisar e julgar o filme, como produto singular da nossa época (essa característica nem seus maiores detratores lhe tiram). No entanto, podemos de fato julgar Spielberg?

Ok, nós podemos antipatizar com o papel que sua figura assume e a que se presta em nosso tempo – e precisamos, inclusive, estar constantemente tomando posições contrárias a esta figura, decerto. Muitos de nós com certeza preferiríamos que ele resolvesse que seus filmes não precisam ser vistos por todas as pessoas ao mesmo tempo e da forma mais lucrativa possível, em detrimento de tantos outros no mundo inteiro, e que seus filmes não mais farão parte de um movimento constante de encarecimento do produto cinematográfico em prol de um fetiche em torno dos efeitos e cuidados visuais. Preferiríamos, enfim, que os filmes que dirige e os que produz não se prestassem mais ao papel histórico (de uniformização americanizante do pensar) a que vêm se prestando nas últimas décadas. No entanto, é preciso notar que essa habitual confusão autoral entre pessoas e seus filmes – mesmo sendo absolutamente necessária e saudável, sem sombra de dúvida, uma atitude de contrapartida a esse rolo compressor tão representativo da grande indústria hollywoodiana – nos levará a perder de vista a discussão mais interessante, a das idéias e dúvidas que o filme pode provocar. O próprio filme, e não a figura pública do autor. Alguns filmes merecem esse cuidado – e AI é um deles. Certamente AI ganha muito público, destaque, muitas críticas e consegue render uma boa grana apenas por ser um filme de Spielberg (como renderam filmes anteriores como Always, Hook ou Amistad, alguns dos mais problemáticos em sua carreira) – e provavelmente isso pesará na avaliação de qualquer espectador minimamente informado, para melhor ou para pior. Mas, por Tutatis, AI não é só isso! Não merece essa obsessão em identificar autores – ainda piorada no caso por toda a importância de Stanley Kubrick no projeto. Ver o filme como uma composição entre Kubrick e Spielberg pode ter ajudado na bilheteria e pode ter servido de assunto, a favor ou contra, para inúmeras críticas e conversas de bar – assim como pode ter sido uma diversão para muitos identificar a qual autor cabia cada trecho do filme, sendo também muito bacana identificar quem era representado por cada personagem. Na verdade, mesmo sendo muito divertido querer descobrir o que é de Kubrick e o que é de Spielberg, isso não é muito mais que uma piada (ou golpe publicitário) banal e repetida à exaustão. Por mais divertido que isso seja, é repetitivo e pobre como um joguinho de computador – o que o filme põe em questão não é justamente que pode-se definir um sujeito apenas pela possibilidade de ter sentimentos? Sendo assim, tentemos deixar o filme nos despertar sentimentos por si só. AI é mais do que isso. Sua história é muito mais rica em idéias, questões, tramas, personagens e climas do que faz crer essa rudeza interpretativa. Pelos problemas que coloca e também pelos problemas de todo tipo que tem, só se pode dizer que é brilhante. Único, one of a kind, como se diz do protagonista.

Deve-se queimar? O filme se defende no tom que tem, o do exaustivo (quase insuportável) lamento do robô-criança David: “Não me queimem! Eu não sou Pinóquio!” é o que ele grita num certo momento.

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Certo, livremo-nos dos autores e falemos do filme, de seus imensos problemas e interesses, antes que seja tarde demais!

É um conto-de-fadas doentio e sintomático, que relê a história de Pinóquio, com paralelos evidentes ainda com Frankenstein e com o homem-de-lata do Mágico de Oz (e até com o herói dos gibis Visão, por que não?). O protagonista é David, um robô-criança, o primeiro de uma série capaz de ter um amor programado por uma pessoa – no caso de David, sua pretensa “mãe”. Ela não é sua mãe, e qualquer sentimento (principalmente o mais nobre, o amor) não pode ser comparado a um programa de computador – e esse é só o primeiro dos furos da trama. Mas, aí é que está o ponto singular de AI: o enredo é escrachadamente cheio de furos, como poucas fábulas tiveram um dia a cara-de-pau de ser, mas não é a verossimilhança que faz valer uma fábula – é sua regra ética, é aquilo que ela pretende demonstrar através de sua história. E o que torna o filme mais contraditório é que esta fábula tão complicada indica em vários momentos simplesmente não estar segura do que pretende dizer. AI não se constrói sobre certezas – ao contrário, provoca dúvidas e questionamentos do início ao fim. Sua moral da história é ambígua, provavelmente porque a narrativa explicita uma fragilidade imensa e confessa do narrador – que nos identifica com um robô com sentimentos que logo se tornará obsessivo por uma figura e por uma vivência que nunca teve, que mais tarde irá destruir alguém igual a si e, logo depois, tentará se suicidar. Este é David, o menino-robô.

Falei em fábula? Mais adequado será o termo usado lá em cima: Conto-de-fadas. Que, ao contrário da fábula, pressupõe absoluta identificação com um protagonista necessariamente problemático e uma resolução através da chegada de um Deus Ex Machina, uma figura poderosa capaz de restaurar a justiça e realizar os desejos buscados pelo ‘herói’.


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Comentei ali em cima que o enredo é cheio de furos, mas é preciso notar que estes furos são muito mais evidentes e complicados na primeira e na segunda parte do que no epílogo, ao contrário do que se comentou em geral na recepção ao filme. De fato, o epílogo foi bastante mal-recebido por alguns, por conta do surgimento dos super-robôs após uma elipse de dois mil anos. Se o recurso dos Deus Ex Machina sempre incomodou platéias diversas, no caso isso se intensifica por conta da imensa passagem de tempo. Mas, oras, Deus Ex Machina é assim, não adianta chiar diante das suas regras de verossimilhança – ou vamos reclamar também com os encenadores de Ésquilo. E, uma vez surgidos os robôs super-sábios, não há grandes absurdos dali em diante. Bem, certo, há sim, há os cabelos da mãe que o ursinho Teddy guardou por tanto tempo – mais do que dois mil anos, ele os guardou o filme inteiro! – e também aquele delírio de recuperar a memória de seres mortos, coroado pela idéia de que os seres clonados só viveriam um único dia. Mas, oras, nesse momento já está mais do que claro que a trama caminha em busca de sua moral, de sua justificativa. E o que dizer dos absurdos que se sucedem até então?

Deixando para analisar à frente certos absurdos que são utilizados para suscitar questões ao espectador, enumeremos algumas inverossimilhanças usadas apenas para dar prosseguimento à trama: Por que Teddy guarda o cabelo da mãe? Se foi Henry que se responsabilizou por David diante da Cybertronics, por que não é ele quem leva o robô de volta para ser destruído? Se entre os robôs apenas David pode amar, por que Teddy e Gigolo Joe o ajudam? (Na verdade, cabe notar que todos os robôs, em maior ou menor escala, são claramente humanizados, o que, ok, pode provocar algumas idéias acerca do que representam os robôs). E como a companhia podia rastrear tão rapidamente o robôzinho que tão logo ele acaba de ser atendido pelo Dr. Know já há um helicóptero à sua disposição e alguns policiais dispostos a fazer um teatrinho para que ele possa escapar? Aliás, como é que eles conseguem decifrar aquele enigma do “fim do mundo” e dos “leões que choram” com tanta rapidez e certeza? E o que dizer do momento em que Gigolo Joe é preso pela polícia, em pleno prédio da Cybertronics e ninguém da companhia vê o que está se passando, de forma tão fabulesca que em seguida David embrenha-se pelo fundo do oceano tendo somente Teddy como companhia? E onde estava então o interesse que ele teria despertado até então na empresa, sabe-se lá por quê? Enfim, indo por este caminho logo chegaremos à implausibilidade básica de filmes com robôs: como é que esses troços se mantêm em funcionamento? Por que será que todo robô de filme de ficção funciona como um moto-contínuo, sem precisar de qualquer espécie de energia a se recarregar?

Ok, não vamos estragar o prazer de ver filmes com robôs – eles funcionam e pronto, ora bolas! O que importa é onde essa história toda quer chegar. AI, sendo plenamente consciente de todas as suas forçadas de barra, traz a nós uma série de idéias capazes de embatucar qualquer um.

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E quais são essas idéias, então? Bem, David não controla os seus sentimentos e a sua obsessão, e essa é com certeza a chave central do filme. Há uma certa sugestão dada pela trama, mas que o filme passa à margem: e se o amor fosse por uma amante, e não por uma ‘mãe’? Como a tecnologia já permitia programar sentimentos, por que não fazer Gigolo Joes com coração de David? O filme foge da confusão entre amor e desejo, mas sigamos com a dúvida: e aí, o que aconteceria? Diga-me, leitor, o que aconteceria se você tivesse um robô eternamente atrás de si, obcecado em lhe deixar feliz e satisfeito, sempre dependente de carinho? É possível tal relação? E o que aconteceria então? É o que é lembrado logo no início por uma cientista – e se o ser humano que programou o robô para lhe amar um dia mudar de idéia? Vale lembrar o dito do Pequeno Príncipe de Saint-Exupéry, cada um se torna definitivamente responsável por aquilo que cativa. Bem, talvez o dito de Exupéry esteja fora de moda e possa ser posto em questão – mas não é ainda uma regra ética válida se trocarmos “cativar” por “criar”? Ou alguém dirá que não somos responsáveis nem ao menos pelo que criamos?

E como reage o criador quando questionado pela sua colega cientista? Compara a situação com a criação de Adão pelo Deus cristão! E como reage diante do sofrimento de sua criação, quando David enfim o encontra? Lava as mãos, relembra seu filho perdido, seu mundo pessoal e seu sonho psicótico. Seus robôs? São apenas robôs, no fim das contas. Mas eles amam! O que mais define um sujeito além de suas paixões? Alma? Ainda é possível acreditar em alma, em espírito? AI talvez seja isso, um filme possível sobre a alma (cinema da alma, como se dizia antigamente), numa época que não sabe mais o que define uma “alma” e em que as pessoas nem sabem mesmo se ainda podem crer na existência dela.

O Professor Hobby, o criador de David, é de um desinteresse impressionante diante do sofrimento de sua criatura – é pior que mais silencioso dos Deuses dos piores pesadelos de Ingmar Bergman! David que se arranje, ele que continue a procurar sua tão sonhada Fada Azul, porque, no que depender do seu criador, ele está frito. E não custa lembrar o que David descobre em sua absurda visita à Cybertronics e ao seu criador: ele não é único, é só o primeiro de uma série (the first of a kind) – podemos imaginar todos os outros meninos-robôs tendo toda sorte de problemas possíveis! E ainda disseram que o narrador se identifica com o inventor – então, que narrador louco tem este filme, por Tutatis!

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Mas não é com a sorte do professor Hobby que as platéias se preocupam, é com David, o menino-robô. Talvez, como já se disse por aí, pudéssemos nos despreocupar do drama do garoto – já que ele não é um garoto, é um robô, e seu sentimento não é um sentimento, é um programa de computador. Por que iremos nos preocupar com o destino de um robô a quem não cabia mais do que ser destruído? Bem, com isso descartamos então qualquer drama vivido por inumanos, incluído os já citados Pinóquio e Frankenstein, mas cada um escolhe sua opção de entender ou não uma história. Igualmente, muito se falou de um certo aspecto doentio das platéias em se identificar (?) com o menino-robô, com suas falhas de caráter e sua ladainha interminável em busca de se tornar humano e de ter sua mamãezinha de volta. Ora, mas então às boas histórias só cabem protagonistas heróicos ou exemplares? David é um anti-herói, uma figura problemática que nos põe em questão – se um dia o sujeito de uma peça precisava matar o pai para ser rei e casar com a mãe-mulher para procriar, e se um dia o sujeito de outra peça descobria que tinha perdido seu lugar no mundo porque seu tio já tinha feito tudo isso, agora temos um sujeito que nem se reconhece como sujeito, que vive num mundo que não é dele, criado por gente diferente dele, que busca um amor que nunca teve, uma mãe que nunca o gerou e que lhe parece inatingível, num sentimento que só existe porque ele o afirma – e ele só se define pelo sentimento que tem. Num mundo sem alma, o que nos constrói é nosso afeto, é o que amamos e o que buscamos – é o que parece nos tornar essencialmente diferentes uns dos outros. E assim é David: ao encontrar um robô absolutamente idêntico a si, ele o destrói de forma violenta. Mais do que apenas denunciar a fragilidade do caráter do personagem, a cena evidencia que é apenas seu afeto o que o robô percebe torná-lo único: quando arranca a cabeça do seu igual, o menino grita, pensando na mãe: “Você não pode tê-la, ela é minha mãe! Eu sou David!”. Ao se descobrir idêntico a uma série de robôs, sente que seu sentimento não é único, que ele é apenas um entre muitos, sem nada que o torne especial – e em seguida vai tentar se suicidar. A princípio isso parece remeter a uma crise da adolescência, mas é mais do que isso – se ele for salvo, voltará à questão interminável. Talvez então AI mostre como é doentio encarar um sentimento de forma estanque, como um robô – mas talvez isso não seja tão inimaginável em seres humanos – por falar em cinema, alguém aí gosta de A História de Adèle H, do Truffaut?

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Já escrevi acima que, ao contrário de um conto-de-fadas típico, AI não se constrói sobre a certeza de uma regra moral que se explicitará ao fim da história. Diferentemente da larga maioria do que se produz em cinema (e diferentemente de todos os demais filmes assinados por Steven Spielberg), AI se constrói sobre dúvidas, medos e insegurança – e suscita mais questões do que certezas. No entanto, há sim uma certa regra, uma determinada ética, que o filme postula em seu final – e é essa regra que parece buscar o narrador quando inventa uma elipse de dois mil anos e o surgimento de super-robôs capazes de realizar de uma determinada forma o desejo de David. Têm eles a chance de proporcionar a David alguns instantes em que seu sonho se realiza, em que ele pode ter sua ‘mãe’ de volta, só para si – tendo se volta uma vivência que, a rigor, ele nunca teve. Então, tendo a oportunidade de moldar a realidade de acordo com sues desejos e sentimentos, David pode enfim ‘viver’ alguns instantes com sua ‘mãe’ amada, ter ela só para si, num mundo em que “não há Martin, não há Henry” (filho e marido de sua ‘mãe’), um mundo, enfim, sem uma realidade que possa roubar a atenção da pessoa amada. Esse ‘sonho’ deixa mais evidente do que nunca como o sentimento e a carência de David se tornaram doentios – e ele pode enfim perceber como a vivência dos sentimentos tem sua hora e sua vez, pode perceber que a obsessão por um sentimento passado é mórbida, que, mesmo que seja possível reviver este sentimento como num sonho, a mera reprodução desse desejo será morta, automática, insatisfatória. Quando vive seu dia único com sua ‘mãe’, David percebe que aquele sonho que ele tinha de ter de volta a pessoa amada não faz mais sentido – porque a pessoa amada não é mais a mesma, porque a realidade mudou, porque seu sonho , mesmo virando fato, não é real como ele gostaria que fosse – não é a mesma coisa. Porque sentimentos e afetos devem ser vividos, e não idealizados e sonhados. Percebendo isso, o menino se transforma e pode se ver livre do mundo idealizado que o atormentava como um fantasma. Seu afeto se destinava a um passado morto, do qual ele enfim se torna livre. É difícil aceitar a perda? É, mas seja bem-vindo ao mundo real: viver também é isso. E é aceitando isso que se pode viver.

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Não é fácil amar AI. Como seu protagonista, o filme parece ser um interminável novelo em torno de uma ladainha constante de falta de amor. Além disso, não são raros os momentos em que o narrador parece apelar para os truques sentimentalóides mais óbvios ou forçados. Para confundir ainda mais as coisa, AI – ao contrário do menino-robô e a despeito de todos seus artifícios encantadores – não tem nenhuma preocupação em satisfazer o espectador e impedir qualquer frustração da parte dele. Ao contrário, temos no filme alguns dos momentos de maior amargura e fragilidade do protagonista feitos no cinema americano – como no momento da sua tentativa de suicídio ou no instante em que a estátua que lhe parecia ser sua redentora Fada Azul se estilhaça diante do seu toque. No entanto, AI traz a quem o assiste de olhos bem abertos a possibilidade de se reconhecer instável, inseguro e problemático – sem trazer qualquer espécie de conforto, mas também sem julgar arrogantemente essa fragilidade. Quem sabe o que é ter e perder alguém, perder da maneira que for? Querer de volta e viver constantemente com esse fantasma? O leitor que se identificar com isso, por um instante que seja, levante a mão por favor.

Se for o seu caso, fica a sugestão: (re) veja o filme. Não é perfeito. É impressionante.

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Ainda vivemos sob a sombra do mito da alma-gêmea, daquele mito tão bem expressado por Aristófanes no Banquete de Platão – aquela fábula cômica sobre um tempo em que os humanos eram todos compostos de corpos duplos (com quatro pernas, braços, olhos) que, por um acidente, se dividiram em dois e nos tornaram como somos: com dois braços, duas pernas, dois olhos e um coração só – inseguro e inconstante. Eis a que nos pode levar essa “alma-gêmea”, esse autêntico fantasma de filme de horror – alguém aí quer ser como David? Não, há sempre outro caminho – é preciso parar de ter medo diante da idéia de andarmos com nossas próprias pernas. Para continuar a viver.

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Já que começamos com letra de música, vamos terminar com letra de música. Cantava Luiz Gonzaga, numa canção que fez com o parceiro Humberto Teixeira : “Se a gente lembra só por lembrar / do amor que a gente um dia viveu / saudade inté que assim é bom / prum cabra se convencer / que é feliz sem saber / pois não sofreu // porém se a gente vive a sonhar / com o amor que a gente um dia perdeu / saudade intonce assim é ruim / eu digo isso por mim / que vivo doido a sofrer”.

É isso aí. Aprendamos com os erros do poeta, então.

Texto publicado pela primeira vez em julho de 2002