De cara, há algo que me intriga e me faz admirar tanto esse filme, é a incrível unidade que ele consegue ter, mesmo sendo feito por três diretores e por nove episódios. Seria uma resposta muito fácil imaginar que isso é conseqüência da qualidade das histórias, que naturalmente traz força ao filme. Mas não, desconfio que não é apenas isso, há algo mais – diria mesmo que a tal ponto o filme encontra seu tom na reunião dos episódios que, se algum dos episódios fosse retirado ou mesmo que se mudasse a ordem destes, seria outro filme completamente diferente. Os Novos Monstros só pode ser imaginado começando com o episódio do cardeal interpretado por Gassman e terminando com o cômico interpretado por Sordi, passando pelo curto episódio Com I Saluci dei Amici, pela história de Auto-stop, em que Ornella é uma caronista que se mete numa fria, pelo episódio Senza Parole, em que a mesma é uma aeromoça que se envolve com um gringo misterioso e surpreendente, pelo episódio Comme una regina, em que Sordi é um filho que interna sua velha mãe no asilo – parte do filme impressionante, diga-se – e, se fosse preciso apontar o ponto máximo, eu talvez escolhesse Hosteria!, em que o maître Gassman e o cozinheiro Tognazzi guerreiam sem parar.
A fórmula de Os Novos Monstros tem antecedentes nos vários filmes em episódios feitos nas décadas de sessenta e setenta, principalmente na Itália – tais como Nós as mulheres, As Bruxas, Boccacio ’70, Histórias Extraordinárias e outros, filmes em que diretores diversos uniam seus episódios num único longa-metragem que os reunia através de um tema em comum. Mas me parece que é notando suas características únicas que se torna possível entender o que ele tem de especial. Antes de mais nada, não é por acaso o ‘novos’ do título, uma vez que Dino Risi já havia feito Os Monstros alguns anos antes, igualmente um filme de episódios, mas dirigido somente por ele. Além disso, dois anos antes Monicelli e Scola haviam co-assinado um outro filme coletivo, Senhoras e senhores, boa noite.
É vendo Senhoras e senhores, boa noite que Os Novos Monstros se decifra um pouco. Porque, ao contrário dos outros filmes com vários diretores da época, Senhoras e senhores não credita quem dirigiu o quê, ou seja, embola todos seus episódios de forma a não sabermos quem é o autor de cada história. Isso mantém-se em Os Novos Monstros, mas, ao contrário do filme que motiva esse texto, Senhoras e senhores também não define seus episódios, contando tudo como se fosse uma história em seqüência – para ser mais exato, como se fosse duas horas de programação de uma rede de televisão. Essa imensa confusão criativa é evitada pela definição episódica clara em Os Novos Monstros, que, mantendo a tradicional solução de terminar suas histórias e recomeçar outras, consegue dar um ritmo e vigor ao filme que faltam a Senhoras e senhores..., não apesar das interrupções narrativas e sim graças a elas.

Acho que é isso: Os Novos Monstros, ao não assinar seus episódios, termina por evidenciar a imensa força de sua narrativa, de suas histórias, de seu tom e deus temas, não importando se seus episódios foram feitos por Scola, Monicelli ou Risi, fulano ou beltrano. O que se faz valer é o filme. (E vale muito, diga-se).
Texto publicado em novembro de 2001