10/04/2009

Meu Nome é... Tonho (1969)




A intencional rudeza do cinema de Candeias torna-se mais evidente em seus filmes de narrativa linear, como é o caso de Meu Nome É Tonho. Foi seu segundo longa, após A Margem, e deste difere totalmente, ao procurar uma proximidade com o gênero do faroeste.

O filme é um barato, e não há preocupação em delineações psicológicas dos personagens. O que há é aquele riso constante, incômodo, desconfortável, assustador, que parece se alastrar por todo o filme. A clássica história de um bando de malfeitores que aterroriza uma região é tropicalizada, tematizando o problema da grilagem, até hoje constante Brasil afora, basta ler as notícias do que ocorre na periferia da capital federal. Os bandidos do filme matam os habitantes da área e vão tomando posse legal de suas terras, enquanto abusam de suas mulheres.

O clima sexualizado e violento da história tem um ar irônico e tremendamente pessimista, algo constante em vários outros filmes do cara. A sexualidade é suja, tosca e bem-humorada (os bandidos comemoram a idéia de invadir um convento, por exemplo), a violência surpreende também por sua rudeza (há, em outro exemplo, uma velha espancada, de forma assustadoramente realista).

O herói solitário surge miticamente, como os bandidos surgiram, sem explicação. Ele aparece no início do filme escapando dos bandidos, e somente bem mais tarde aparecerá para destruir o bando, não sem antes se envolver num caso inesperadamente incestuoso. Por inovar na instauração do clima mítico, este é talvez a melhor ponte junto ao faroeste clássico. Por lidar com uma questão séria como a grilagem, sai-se também brilhantemente na ponte com nossa realidade, fazendo então um 'faroeste de terceiro mundo' sensacional. Fico imaginando o que Sergio Leone pensaria do filme. Certamente iria cair da cadeira.

A fotografia é do mestre Peter Overbeck, fotógrafo do Bandido da Luz Vermelha, que já tinha feito a luz do curta de Candeias que compunha a Trilogia do Terror, O Acordo. A música é de Paulinho Nogueira, incrível.

A sujeira intencional do filme se mostra logo nos créditos iniciais, que parecem não estar bem ajustados. Na verdade, é bem mais difícil fazer daquela forma, refletindo a luz nos letreiros. Mas a impressão é de mal-feito, e a intenção é essa.

E aqueles risos...


Texto publicado em fevereiro de 2001